sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Pratique exercícios físicos regularmente.

Educação física e saúde coletiva: papel estratégico da área e possibilidades quanto ao ensino na graduação e integração na rede de serviços públicos de saúde




Este artigo se destina a propor a profissionais e estudantes da área de conhecimentos e intervenções designada institucionalmente “grande área saúde” algumas reflexões sobre o papel estratégico da subárea de saberes e práticas denominada geralmente educação física, quanto a sua inserção tanto nos serviços públicos de saúde como na formação de profissionais do campo das ciências biomédicas. As reflexões dirigem-se, sobretudo, à subárea mencionada, no sentido de dotar este campo disciplinar de instrumentos úteis em relação à terapêutica, à prevenção de doenças e à promoção da saúde humana.

A proposta se apóia em interpretações de resultados observados em práticas corporais desenvolvidas pelo Grupo de Pesquisas Racionalidades Médicas e Práticas em Saúde no Instituto de Medicina Social (IMS) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) desde fins da década passada.

     Entre as práticas observadas incluem-se algumas tradicionalmente pertencentes ao campo da educação física: a ginástica aeróbica, a hidroginástica, o alongamento, a musculação, além de outras que não pertencem à tradição ocidental, de exercícios envolvendo o corpo, mas crescentemente incorporadas ao conjunto de atividades da área, tais como a ioga, o tai chi chuan, a capoeira e a dança de salão, para mencionar as que estudamos em espaços abertos e em academias.

Na Europa do século XVIII, aliás, dança, treinamento militar, equilibrismo, malabarismo e artes circenses conviviam culturalmente como formas sociais legítimas de adestrar e conferir habilidades ao corpo. Somente nos dois últimos séculos (XIX e XX) a prática da educação física, em termos de “atividade física”, é incluída como uma disciplina, no sentido teórico e prático, nos quartéis, nas escolas, no desporto, que se organiza institucionalmente em diversas modalidades, e em seguida nos hospitais, em termos de “reabilitação” (geralmente pós-cirúrgica), com finalidade terapêutica.


Em todos esses casos, o papel do “exercício físico” é dominante e está ligado, se seguirmos a linha de pensamento de Michel Foucault, à estratégia da submissão dos indivíduos à nação na história moderna, e ao dispositivo disciplinar dos corpos para a atividade produtiva, isto é, o trabalho.

Na sociedade civil brasileira cresce a cada dia a noção dessa importância, não apenas em função da importância cultural do corpo e sua “forma”, mas também, insistimos, através da crescente consciência social que muitas formas de adoecimento e morte podem ser evitadas apenas movimentando-se o corpo regularmente, e que modos de viver socialmente agradáveis, resultantes da prática grupal de atividades corporais, podem alegrar e expandir a vida, pela partilha social de valores de convivialidade.

É justamente sobre o processo de medicalização da atividade física, e a conseqüente despotencialização do significado cultural das práticas corporais no cuidado em saúde, que nossos projetos, investigações e análises estarão centrados.


BAGRICHEVSKY, Marcos; PALMA, Alexandre; ESTEVÃO, Adriana (Org.). A saúde em debate na educação física. Blumenau: Edibes, 2003.

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